segunda-feira, 23 de março de 2015

Semana da Leitura

MatExploradores,


Na passada sexta-feira terminou a semana da leitura e nada melhor do que a terminar em grande. Na turma do 6ºH terminamos a semana da leitura com um poema do "Pequeno Livro de Desmatemática" de Manuel António Pina, que deixamos aqui hoje.

" A história infinita do Pi" 

Julgando o fim a chegar,
O pi deu de começar
A preocupar-se consigo.
E um dia fez a bagagem
E partiu numa viagem
Ao fundo do seu umbigo.

 Mas o umbigo era mais fundo
Do que o umbigo do mundo
E o p regressou mais
Baralhado que à partida,
De cabeça confundida
Com cálculos decimais...

Hoje o pi, já muito velho,
Senta os netos nos joelhos
E fala-lhes de Alexandria,
Da China, de Chung Zhi,
De Al-Kashi, de Al-Kwarismi,
Da Casa da Sabedoria.

E dos milhares de milhão
De casas onde viveu
Na sua aventurosa existência,
Desde o dia em que nasceu
Da estranha relação

dum diâmetro e uma circunferência.

Mas se bem se lembram também se tinha lido um poema na terça-feira. Aqui está ele:

"A triste história do zero poeta"

Numa certa conta havia
um zero dado à poesia
que tinha um sonho secreto:
fugir para o alfabeto.

Sonhava tornar-se um O
nem que fosse um dia só,
ou ainda menos: só
o tempo de dizer: «Oh!»

(Nos livros e nas selectas
o que mais o comovia
eram os «Ohs!» que os poetas
metiam nas poesias!)

Um «Oh!» lírico & profundo,
um só «Oh!» lhe bastaria
para ele dizer ao mundo
o que na alma lhe ia!

E o que na alma lhe ia!
Sonhos de glórias, esperanças,
ânsias, melancolia,
recordações de criança;

além de um grande vazio
de tipo existencial
e de uma caixa que o tio
lhe pedira para guardar;

e ainda as chaves do carro
e uma máscara de entrudo...
Não tinha bolsos, coitado,
guardava na alma tudo!

A alma! Como queria
gritá-la num «Oh!» sincero!
Mas não passava de um zero
que, oh!, não se pronuncia...

Daí que andasse doente
de grave doença poética
e em estado permanente
de ansiedade alfabética.

E se indignasse & etc.
contra o destino severo
que fizera dele um zero
com uma alma de letra!

Tanta ambição desmedida,
tanto sonho feito pó!
E aquele zero dava a vida
para poder dizer «Oh!»...



Cumprimentos,

As MatExploradoras, Filipa e Inês

(Estagiárias de Matemática)

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